09/07/2010

UMA GARRAFA DE VINHO NOS DEGRAUS DA IGREJA

Estava anoitecendo quando resolvi fazer uma caminhada recomendada pelos médicos. Saindo da casa pastoral, vi uma senhora idosa de boa aparência, sentada à porta de nosso pequeno templo, em Zurique (Suíça), com uma garrafa de vinho sobre os degraus.

Caminhei por alguns minutos e quando voltei encontrei à senhora na mesma posição, diante da porta pela qual estou orando durante os últimos 15 anos, pedindo a Deus que Ele abençoe as pessoas da Suíça, e para que encontrem a graça da vida eterna entrando por essa porta.

Não tive a consciência tranqüila para entrar na casa pastoral, sem saber o que esta senhora poderia estar passando de necessidades.

Então voltei, sentei no canteiro de flores e perguntei se ela precisava de ajuda.

Tomando um novo gole de sua garrafa de vinho, ela declarou que seu esposo se atirou à vida, e que ela não mais suportava a solidão.

Quando lhe falei que eu era pastor da igreja, ela se assustou ao saber que estava diante de um templo e disse:

"Deus não pode existir, pois a tragédia de minha vida é grande demais!"

Contou-me que sua mãe foi alcoólatra, o pai também morreu bebendo e ela como filha do proprietário do circo, precisava trabalhar sob as ameaças e surras do pai, que ganhava a vida com o lucro das filhas trapezistas.

Chorando ela dizia: "Você entende minha solidão? Minha mãe dizia que me amava, mas sempre estava alcoolizada. Meus filhos são drogados, só chegam à minha casa para buscar dinheiro quando precisam comprar drogas, que injetam em suas veias."

E ela continuou: "Na verdade eu creio que Deus existe, pois eu tentei tirar minha vida tomando medicamentos e o médico me disse que, de mil pessoas somente uma sobrevive depois de tomar a dose que eu havia tomado."

Lembrando este milagre ela disse: "Naquele momento veio um vulto divino e salvou a minha vida. Sim, eu creio em Deus!"

A senhora já estava com quase 70 anos de idade. Sua aparência era saudável, estava bem vestida e limpa. Havia tirado os sapatos de salto alto, e estava com os pés no chão gelado sobre os degraus da igreja. De repente ela me olhou emocionada e disse: "Você acredita em mim? Então diga sinceramente: "Você pessoalmente crê em Deus? Existe ainda alguma esperança para mim?"

Emocionado eu respondi: "Isabel, (este é seu nome artístico) faz 15 anos que estou orando no Brasil, para que Deus ajude as pessoas que entram por esta porta aqui na Zelgstrasse (nome da rua) W 25, e hoje eu vejo uma pessoa, que aqui está precisando do amor de Deus. Sim, Helga (o seu nome verdadeiro) eu creio que eu sou uma pequena "faísca" do amor de Deus, mandada para sua vida, já que sua mãe e seu pai não lhe instruíram nos caminhos de Deus, como o fizeram meus pais por mim desde a minha infância."

Mostrando para a porta da igreja às suas costas, eu disse: "Nesta porta teremos culto no domingo. Meu filho é pastor desta comunidade e vai lhe visitar em sua casa, e hoje pode começar uma nova vida, aqui junto à porta desta igreja."

Ela respondeu: "Você acha que existe esperança para mim?" Eu respondi: "Sim, encontrei pessoas caídas no meio da rua no Brasil, na poeira vermelha há 30 anos atrás, e hoje são pessoas transformadas. Isabel, existe esperança para você!"

Ao sentir frio, eu pedi que ela fosse para sua casa, pois dizia possuir um lindo apartamento na vizinhança da igreja.

Sabemos que: "Uma vez alcoólatra, sempre alcoólatra." Mas, Helga pode ser salva pela graça de Deus e convido os leitores a orar por ela, para que seu nome seja chamado para entrar para a glória eterna, no dia do Juízo Final. Você quer orar comigo, pela ex-trapezista e ex-segunda miss beleza da Austria?

"Vizinha, nós te odiamos!", isto estava escrito num pedaço de cartolina que Helga retirou de uma pilha de pedaços de papel, com dizeres semelhantes que foram jogados na caixa postal de seu apartamento, em Zurique na Suíça.

Aquela manhã parecia ser um pequeno calvário que me conduziu até o lugar onde eu não planejava chegar. Tentei ir até ao centro da cidade, mas chegando na primeira praça, tive que descansar, quando lembrei que a ex-estrela do circo não veio ao culto como ela havia prometido na semana anterior, então fui visitar a senhora idosa que conheci com sua garrafa de vinho, nos degraus diante da porta da igreja.

Sentado na sala de seu apartamento, conheci um de seus companheiros de solidão. Só um deles arriscou sair do esconderijo e fez amizade comigo, e a senhora ficou emocionada e disse:

"O outro sofreu tantas ameaças e maldades, nem posso acreditar que ao menos um deles veio para receber uma pessoa desconhecida."

O companheiro que veio me "cumprimentar" foi um gato que ela encontrou sete anos antes na rua. Um outro já morava com ela havia 17 anos. Foi pela primeira vez em meu pastorado que narrei uma história verídica do "Gato Pródigo" de três pernas, de Camburiú, SC, para evangelizar uma pessoa.

Esse gato foi encontrado em Santa Catarina por uma senhora de nossa comunidade de Hamburgo. O esposo da senhora que levou o gatinho para a Alemanha disse, quando visitei sua família em Hamburgo, com um sorriso inesquecível: "Este gato salvou a minha alma!" A história do "gato pródigo" foi como uma "Bíblia" na Linguagem da senhora suíça para consolar a ex-estrela do circo, e fazê-la entender o amor de Deus, pois a Bíblia ela não conhecia.

O momento de oração em seu apartamento que seguiu depois do diálogo, será guardado como um dos momentos mais sublimes de minha vida pastoral. Pois, pude entregar sua vida aos cuidados de Deus.

Não pude orar com ela sentado sobre os degraus diante da porta do templo, mas tive o privilégio de clamar pela misericórdia de Deus por Helga, em seu apartamento, depois que ela havia sido socorrida, quando ela esteve entre vida e morte no final da semana, quando a aguardávamos no culto em Zurique. Entendi naquele dia, que ela estava sob a proteção das pessoas que eu havia convidado pela internet a orar comigo por Helga no Brasil, nos USA, na África e na Alemanha.

A primeira resposta na tentativa de salvar a senhora que conheci chorando nos degraus da igreja, foi mais uma das infinitas provas que confirmam, o que diz um dos mais belos hinos do conjunto Ecos da Liberdade: "Deus ouve oração!"

Os bilhetes com o dizer: "Helga, nós te odiamos!" que ela me mostrou antes de sair de seu apartamento, serão "documentos" em minha lembrança, das pessoas que gritam por socorro, mas não sabem que Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho Unigênito para que todo aquele que nele crê, não pereça mas tenha a vida eterna.

No domingo seguinte, Helga esteve conosco no culto em Zurique. Foi maravilhoso vê-la sentada ao lado de minha esposa. Num momento de oração Helga disse: "Eu também quero dizer algumas palavras: "Deus, eu quero te conhecer melhor a partir de hoje. Amem."

Por problemas de saúde, eu não estava em condições de realizar grandes campanhas, mas pude fazer minhas caminhadas, e por esta razão dirigi-me ao apartamento da senhora que encontrei embriagada, com uma garrafa de vinho, enfrente a nossa igreja.

Resolvi levar uma folha impressa com letras grandes, ao seu apartamento, que dizia: "Helga, a comunidade da rua Zelgstrasse N° 25 te ama!"

Como ela não estava em casa, deixei o escrito com uma caixa de chocolates num pacote, para contradizer o que os vizinhos falavam dela: "Nós te odiamos".

Poucas horas depois recebemos o telefonema da Sra. Helga, dizendo que, com lágrimas nos olhos recebeu o lembrete de amor e prometeu: "No domingo vou trazer um bolo para que seja servido à comunidade depois do culto."

Três domingos depois, quando a ex-estrela de circo chegou pela segunda vez à igreja, trouxe dois bolos para o café que é servido depois do culto. O pedaço de bolo que eu recebi foi Deus quem trocou pela garrafa de vinho, e foi um dos bolos mais importantes que Deus me serviu em minha vida pastoral.

(da revista Ecos da Liberdade)

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