
Acabei eu de terminar a leitura de “Ben-Hur” (o livro estava ainda sobre a mesa) quando o autor, Lewis Wallace, entrou em minha casa. “A leitura desse livro fez-me muito bem”, disse eu; “tenciono lê-lo mais vezes”.
Wallace demonstrou certa satisfação com o meu entusiasmo, e eu lembrei-me de lhe perguntar quem o inspirara a escrever um livro tão empolgante. Após alguns instantes de reflexão respondeu-me: “Já que estás interessado em saber, vou relatar-te como foi”. Ajeitando-se melhor à cadeira, disse o seguinte: Eu era conhecido como um ateu inveterado, tendo renegado completamente o Cristianismo. Robert Ingersol (conhecido ateu muito ativo em espalhar a doutrina do ateísmo) era um dos meus amigos íntimos. Acabara de pedir a minha demissão de governador do Estado de Arizona, e dirigi-me para o leste do país em sua companhia. O trem aproximava-se da cidade St. Louis, e observamos grande número de igrejas com as respectivas torres. “Não é estranho”, exclamou Ingersol, “que pessoas inteligentes e de projeção continuem a acreditar nas doutrinas insensatas que se ensinam nas igrejas? Quando compreenderão que os ensinamentos da Bíblia não passam de mitos?”
Continuamos a discorrer durante algum tempo sobre o assunto. Repentinamente Ingersol disse-me: “Wallace, tu és um erudito e um pensador; por que não reúne documentos para escrever um livro que prove a falsidade das doutrinas de Jesus Cristo, bem como o erro de crer que semelhante personagem tenha existido? Uma tal obra te asseguraria fama mundial. Seria uma obra-prima e o único meio de pôr fim a esta quimera e a tudo o que diz respeito ao suposto Cristo e Salvador do mundo”. A proposta insistente de Ingersol causou profunda impressão no meu espírito, e pusemo-nos a discutir sobre o alcance de um livro dessa natureza. Ao separar-nos assegurei ao meu amigo que iniciaria, imediatamente, os preparativos para escrever uma obra que seria o meu melhor livro e a coroação dos meus esforços como escritor.
Cheguei a Indianópolis, onde morava, e contei o meu novo projeto à minha mulher. Ela era membro da Igreja Metodista, e como é natural, a minha resolução entristeceu-a profundamente. Eu estava decidido a cumprir o que prometera, e comecei a juntar todos os documentos que encontrei nas melhores bibliotecas da América e Europa. Recolhi todos os dados que me foi possível e os documentos que pudessem esclarecer os fatos da época em que Jesus viveu.
Vários anos se passaram assim, e quando tinha entre as mãos todos os elementos necessários, principiei a escrever o trabalho. Estava no quarto capítulo quando a convicção de que Jesus Cristo era uma personalidade tão real como Sócrates, Platão, Júlio César e outros homens da Antigüidade. Esta convicção se tornou em certeza. Eu tive de reconhecer que Jesus Cristo viveu na terra e os fatos históricos desse período não faziam senão corroborar a minha certeza.
Sentia-me numa posição falsa. Com efeito, não principiara eu a escrever um livro cujo único fim era demonstrar que Jesus jamais existira? E agora, diante dos fatos, era forçado a reconhecer que a Sua existência terrena fora tão real como Júlio César, Marco Antônio, Virgílio ou Dante. Uma outra pergunta começava a atormentar-me: “Se Jesus tinha de fato vivido (e não podia haver dúvidas a esse respeito), não seria Ele também o Filho de Deus e o Salvador do mundo?” Essa convicção tornou-se pouco a pouco uma realidade na minha alma e eu cri firmemente que Jesus era não só uma pessoa viva, como também o que Ele próprio declarara: o Filho de Deus.
Certa noite ficou inesquecível na minha vida, caí de joelhos e, pela primeira vez na vida, pedia a Deus que se revelasse a mim, perdoasse os meus pecados e me ajudasse a tornar um dos seus fiéis servidores. Pela manhã fez-se luz no meu espírito. Entrei no quarto da minha mulher, acordei-a e anunciei-lhe que recebera Jesus como meu Salvador. Quando ela ouviu o que lhe disse, o seu rosto se iluminou de alegria. Ela exclamou: “Ó, Lewis, desde o dia em que me comunicaste a intenção de escrever tal livro, não cessei de orar para que Deus te revelasse a verdade”.
Ajoelhamo-nos junto do leito àquela hora matinal e agradecemos a Deus pela Sua misericórdia e pelo caminho maravilhoso por onde me tinha conduzido. Não creio que possa existir alegria maior no céu do que a que experimentamos naquela manhã quando nos sentimos unidos na comunhão de Cristo.
Perguntei em seguida à minha mulher: “Que farei agora a todos estes documentos que reuni com tanto esforço, sacrifício e à custa de tanto dinheiro?” Ela respondeu: “Escreve de novo os quatro capítulos e prossegue até acabares o livro, demonstrando ao mundo que, após as tuas buscas e experiência pessoal concluíste que Jesus Cristo é de fato o que Ele asseverou ser: o Filho de Deus, o Salvador do mundo!”
(Revista Novas de Alegria, Portugal).