29/07/2011

PODEROSO PARA GUARDAR

Numa noite de domingo, durante o segundo verão da Guerra Civil na América do Norte, um jovem soldado confederado, John Roberts, foi designado para ficar de sentinela num bosque à margem de uma estrada no Estado de Virgínia.

A noite estava quente, opressiva. John Roberts, cansado e sonolento. Tudo ao redor era silêncio. De vez em quando apenas o rumor de um esquilo saltando entre os galhos, ou os característicos ruídos noturnos de uma floresta. Subitamente, o coração do soldado bateu mais apressado, e uma insuportável sensação de perigo pôs-lhe um calafrio por todo o corpo. A escuridão o cercava, cheia de mistérios, e por entre ela nada, senão o vulto das árvores e o balançar das ramadas que tornavam a noite mais negra e temerosa naquele esconderijo.

Roberts, arrastando-se com cuidado, arriscou um olhar pela estrada, que desenrolava numa faixa esbranquiçada entre os matagais de um outro lado. Nada viu de ameaçador ou suspeito. Volvendo ao abrigo primitivo, o soldado deixou-se arrebatar pela imaginação aguçada. A imagem da mãe e da velha igreja, em cujo coro cantara quando criança, amenizou-lhe um pouco aquela sensação de solidão e perigo. E dos lábios, quase inconscientemente, nessa lembrança tão doce, brotaram-lhe, a princípio em murmúrio, depois em palavras nítidas que não conseguiu reprimir, as palavras de um hino muito amado: “Outro amparo não achei; sem alento, venho a Ti. Se me negas, morrerei; voz da morte já ouvi. Eu confio em Teu amor e na Tua compaixão. É meu forte defensor: não me largue a Tua mão!". Enquanto assim cantava, a lua emergiu de entre as nuvens e toda a estrada se clareou num banho de prata. John Roberts sentiu como se a lua lhe viesse varrer as sombras de perigo e temor que antes o oprimiam.

Alguns anos depois, terminada a guerra, ele estava cruzando o Atlântico, rumo à Inglaterra. Num domingo pela manhã, reuniu-se com vários outros companheiros de viagem num camarote, para lerem a Bíblia e cantarem alguns hinos. O capitão, que dirigiu o serviço religioso, pediu a Roberts que fizesse um solo. Alegremente, o moço atendeu-o e cantou o seu hino favorito, o mesmo que entoara naquela noite no bosque de Virgínia. Enquanto cantava notou que um dos passageiros ao levantar a cabeça olhava-o surpreso, com um interesse estranho, numa atitude a um tempo admirada e comovida. Terminado o culto, o homem veio procurá-lo: “Sou Harvey Brandon, de Nova Yorque”, disse ele apresentando-se. “Apreciei muito o hino que o senhor cantou. E creio - disse depois de uma pequena pausa - que é a segunda vez que o ouço”.

E como John Roberts fizesse menção de achar isso impossível, pois era a primeira vez que o via, o outro perguntou: “O amigo não pertenceu ao Exército Confederado? E não esteve, em tal noite, de sentinela num bosque de tal estrada da Virgínia?” “Sim, é verdade”, respondeu admirado Roberts. “Mas como podes saber disso?” “Porque eu também estava lá. Era um soldado da União, do exército contrário ao seu. Tirava serviço naquela noite. Com um grupo de patrulheiros, nos aproximamos daquele bosque, e o descobrimos. O senhor era um perfeito inimigo para nós. Apontei-lhe minha arma e meus soldados também levantaram as suas armas para fuzilá-lo. Nesse momento o senhor começou a cantar: “Outro amparo...” Baixei a arma, e disse a meus companheiros: Rapazes, é nosso irmão. Vamo-nos daqui.

Esta história verídica mostra que a infinita bondade de Deus nos alcança o Seu poder de salvar.

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