13/05/2011

O FRIO QUE VEIO DE DENTRO

(Colaboração de Suzana Pauletti)

Quatro homens ficaram bloqueados numa caverna por uma avalanche de neve.

Teriam que esperar até o amanhecer para poderem receber socorro.

Cada um deles trazia um pouco de lenha e havia uma pequena fogueira ao redor da qual eles se aqueciam.

Se o fogo apagasse, todos morreriam de frio antes que o dia clareasse.

Chegou a hora de cada um colocar sua lenha na fogueira.

Era a única maneira de poderem sobreviver.

O primeiro homem era um rico avarento. Ele estava ali porque esperava receber os juros de uma dívida.

Olhou ao redor e viu um círculo em torno do fogo bruxuleante, um homem da montanha, que trazia sua pobreza no aspecto rude e nas roupas remendadas.

Ele fez as contas do valor da sua lenha e enquanto mentalmente sonhava com o seu lucro, pensou:

- Eu, dar a minha lenha para aquecer um preguiçoso?

O segundo homem era negro. Seus olhos faiscavam de ira e ressentimento.

Não havia qualquer sinal de perdão ou mesmo aquela superioridade moral que o sofrimento ensinava.

Seu pensamento era muito prático:

- É bem provável que eu precise desta lenha para me defender. Além disso, eu jamais daria minha lenha para salvar aqueles que me oprimem. E guardou suas lenhas.

O terceiro homem era o pobre da montanha. Ele conhecia mais do que os outros os caminhos, os perigos e os segredos da neve. Ele pensou:

- Esta nevasca pode durar vários dias. Vou guardar minha lenha.

O último homem trazia no rosto e nas mãos os sinais de uma vida de trabalho.

Seu raciocínio era curto e rápido.

- Esta lenha é minha. Custou o meu trabalho. Não darei a ninguém nem mesmo o menor dos meus gravetos.

Com estes pensamentos, os homens permaneceram imóveis. A última brasa da fogueira se cobriu de cinzas e finalmente apagou.

Ao alvorecer, quando os homens do socorro chegaram à caverna encontraram os cadáveres congelados, cada qual segurando um feixe de lenha. Vendo aquele triste quadro, o chefe da equipe disse:

- O frio que os matou não foi o frio de fora, mas o frio de dentro.

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